sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Eu deveria ter morrido ontem

    Eu deveria ter morrido ontem. É incrível como apenas duas palavras derruba tanto alguém. Nem a enorme coceira nos pontos da cirurgia do pulso estão incomodando tanto quando esse sentimento de impotência. 

    Passei anos fazendo coisas, tentando ter ao menos uma migalha do que eu tanto quis ter há tanto tempo. O tanto que eu chorei escondido, o que tive que aguentar para continuar por perto, o que eu tive que desistir, o que eu me humilhei, o que eu me fiz fazer... tudo em vão. Duas palavras destruíram o que eu já sabia que havia valido de nada. 

    Sou um inútil. Sou um idiota. Como pude continuar sonhando feito uma criança sabendo que a realidade, principalmente a minha, me priva de praticamente tudo? Imbecil! Sou burro, um sonhador burro que se enche de esperança e finge para si mesmo que não a tem.

    Eu deveria ter morrido ontem. Não por causa disso, não por causa dele, não por causa de suas palavras em particular. Elas foram o famoso "gatilho", a confirmação de minha inexperiência, minha ignorância e inutilidade. O "menino" de 22 anos que ainda sonha em ser o cantor que queria aos 4 ou 5 anos. O estúpido que se prende a todo custo a alguém que já deixou muito claro inúmeras vezes que não haveria nada entre nós.

    Eu morreria por você, você sabe disso, mas não dessa forma. Não me mataria por você, não assim de graça.

    Nem com forças para chorar eu estou, pelo menos no momento. Estou inerte, aproveitando o desconforto enorme no punho. A dor leve, a coceira que não para, a faixa que aperta e machuca a mão... que doa, coce, aperte e machuque. São coisas que estou acostumado, o incômodo que não tem fim. Eu deveria ter morrido ontem.

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