quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Lágrima seca

    Estou chorando, mas não se vê uma lágrima sequer. Estou triste, porém meu olhar não demonstra. Estou devastado, entretanto pareço normal. É vida, meus parabéns, você está conseguindo de novo, você sempre consegue.

    Quem sou eu diante de um mundo tão grande repleto de pessoas tão pequenas quanto eu? Sou só mais um ponto rabiscado de qualquer jeito numa enorme tela com pontos perfeitos e linhas tremidas. Sou só mais um, mas sou o um. Aquele um que está sozinho em todos os lugares, o um que não chega ser único nem diferente de muitos, mas mesmo assim sou aquele um.

    Eu realmente estou chorando, mas meu rosto imparcial se nega a se contorcer nem meus olhos cedem às lágrimas que mal chegaram à superfície e logo foram tragadas de volta para o corpo. Estou só, a vida me pisa, os Grandes acenam do céu e eu os vejo do chão - meu lugar.

    Dizem que não podemos ir além do fundo do poço, mas sabemos que nós mesmos cavamos nossas covas e assim vamos cada vez mais afundando até o ponto onde nem conseguimos enxergar o poço, damos sorte se ainda conseguimos enxergar algo na verdade.

    Eu queria ser um deles, queria ser um Grande, mas mesmo se eu fosse conseguiria encontrar um lugar apertado, escuro e frio para cavar meu buraco de angústia porque sou assim, eu sou isso. Algumas pessoas são seus próprios demônios, vivem presas dentro de si mesmas culpando o mundo quando na verdade são elas mesmas que permanecem nisso. Eu sou assim, tenho consciência disso, mas mudar? Não tenho vontade. Ou melhor, tenho, só que mais se configura como vontade de ter vontade, do que a vontade de mudança em si. Quero querer mudar. Não consigo. Eu sou meu buraco, minha cova, meu escuro, minha angústia, minha inveja... se eu perder isso serei mais nada do que já sou.