terça-feira, 17 de maio de 2016

Desabafo

    Desabafar para o nada e para ninguém, apenas jogar palavras em uma tela branca em branco. Ver pixels pretos e uma linha na vertical que pisca ao parar de digitar. 

    Desabafar em um sonho. Desabafar em um poema. Desabafar em um conto, um texto, em um contexto. Desabafar em um desenho, risco, rabisco. Desabafar em uma linha, em um corte, na morte.

    Desabafar para si, como faço. Desabafar para ti, como também faço, mas não vês, não permito, mas você também não se permite, se permita!

    Desabafar sobre o que vejo, o que sinto, mas sem sentir e sem ver. Desabafar o confuso, o abstrato, o imaginário, o purgatório. Desabafo. Cansaço. Tenho medo do desabafo, do direto, do na face, aquele que realça a alma dos que desabafam. Desabafo quieto, na sombra, na tela branca que agora em branco não mais está. A linha ainda pisca quando eu paro o desabafo, mas isso é um desabafo? Não sei. Talvez eu deva desabafar sobre isso.